Dólar teve a maior desvalorização para o primeiro trimestre em 13 anos, recuando 14,55%
O especialista CNN em economia Sergio Vale aponta quatro principais fatores para a queda expressiva do dólar em relação ao real em 2022, que rendeu o maior recuo no primeiro trimestre em 13 anos, de 14,55%. Segundo ele, a variação atual “não é algo comum de se ver”.
O primeiro fator, diz, é o diferencial de juros do Brasil em relação a outros países, em especial os Estados Unidos, com a taxa básica de juros, a taxa Selic, já acima dos dois dígitos e podendo chegar a 13% nas próximas reuniões do Banco Central. “Esse diferencial de juros ajuda a entrar capital de curto prazo e a apreciar o câmbio”.
“Há pouco mais de um ano, a Selic estava em 2%, e pode chegar a 13% agora. É uma aceleração muito forte, para uma taxa de juros lá fora que está subindo com pouca intensidade. Isso ajuda muito na entrada de capitais”.
Há, também, a disparada nos preços das commodities com a guerra na Ucrânia e a pandemia, o que favorece grandes produtores, caso do Brasil.
Vale afirma que “voltamos ao que existia antes da pandemia, uma normalidade na relação de preços de commodities e câmbio. Quando o preço das commodities subia, o câmbio apreciava, porque havia a percepção de entrada de capital via balança comercial, fortalecia nossa economia”.
O terceiro fator, que o especialista afirma ser paradoxal, é que o Brasil passa por um momento de certa estabilidade política e fiscal. “Tem uma eleição tensa à frente, mas está distante ainda, e 2021 foi um ano muito intenso na questão politica e fiscal. Nesse começo de ano estamos com uma certa calma, ajuda a tranquilizar o mercado”.
“Nesses últimos dois anos, o que a gente viu acontecer do ponto de vista político e político-fiscal foi o contrário do que a gente queria ver. A dificuldade por conta de lidar com a pandemia, a dívida pública explodiu. Ano passado foi um stress fiscal do início ao fim, culminando com a quebra da regra do teto”, afirma.
“Quando pega essa turbulência, foi um elemento extremamente importante para ajudar a explicar essa taxa de câmbio insistentemente acima de R$ 5. Não é que ela passou, o cenário ainda é complicado, mas estamos em um limbo”, avalia.
Por fim, Vale cita a fuga de investidores da Rússia devido à guerra, em uma realocação de portfólios de investimento em que o Brasil surgiu como elemento atrativo.
Nesse sentido, para tentar entender os próximos movimentos do dólar em relação ao real, é necessário pensar nesses fatores.
Sergio Vale ressalta que, “da mesma forma que era quase impossível ver a taxa de câmbio nesse patamar no ano passado, fica difícil garantir onde vai estar o câmbio nas próximas semanas, meses”.
A princípio, ele avalia que os dois primeiros fatores devem se manter, mas os outros dois são mais difíceis. “O que deve mudar um pouco é o cenário político, que deve trazer alguma tensão nos próximos meses, e a guerra da Ucrânia provavelmente vai estar mais tranquila no segundo semestre, o pior vai ter passado em relação a março”.
“Então, considerando esses pontos, ainda no curto prazo o câmbio pode cair mais, pode chegar a R$ 4,50, até menos, mas no segundo semestre o mercado todo está preocupado, e o câmbio pode voltar para acima de R$ 5”.
Fonte: CNN